terça-feira, 14 de setembro de 2010

Welwitschia Mirabilis

Na desolada solidão enorme
Do Kalahari rasteja esta planta
Que em seu aspecto único, disforme,
Umas vezes me enerva, outras me encanta

Tem a aparência de um polvo gigante
Fossilizado sob o solo ardente
Que é hoje areia em fogo calcinante,
E foi fundo marinho antigamente

As folhas largas, contorcidas,
Parecem traduzir a sede, a mágua,
De línguas abrazadas, estendidas
Num desespero a ver fugir a água

Eu estremeço, quando a noite desce,
Ao ver aquela massa desgrenhada
Que me congela o sangue e me parece
Uma cabeça fria, decepada

Cabeça do Baptista sobre o prato,
De prata, que o luar funde na areia,
Cabeça de Holoformes ainda cheia,
De luxúria e de horror do assassinato

(Composição lírica publicada pelo semanário Mossãmedes de 1 de Janeiro de 1938)
Fonte: Blogue "Gente do meu tempo" - Barra lateral direita

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