quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pátria de todos os sentidos


Pátria de todos os sentidos
É a geografia, a História, a Literatura, a Língua Portuguesa, o
Sexo
são as cuanhamas, as mumuílas, as alentejanas, as
caboverdianas, as timorenses
as algarvias, as mandingas, as minhotas, as mulatas de todas as
terras ...

são os montes agrestes e secos, os desertos, a welwichia
são as matas tropicais, as savanas do leste de Angola,
as planuras do Alentejo,
os faróis da costa,
as praias, as falésias a pique, as costas agrestes,
as ilhas, os ilhéus solitários, os rochedos secos inabitáveis
os rios grandes e pequenos, a mulola de Vila Arriaga,
o rio cubanguí, o grande Zambeze,
o Tejo e a lembrança da partida e da chegada das caravelas e
naus do Império

São as danças de África, de Goa, de Timor ...
São os cantares dos povos de Angola, Moçambique, Timor, Brasil
...

Pátria de todos os sentidos

É a cultura portuguesa, do império e dos povos de todas as
cores
é a história dos feitos de portugueses e daqueles que com eles
estiveram
é a vida dos heróis que por ela se sacrificaram

Pátria de todos os sentidos
Minha Pátria

É sentir o húmido das mulheres desta terra
do Minho a Timor
É sentir os odores que a identificam e diferenciam
os encantos dos seios, negros uns, mais claros outros
É a configuração diferente das vulvas,
encarapinhadas umas, outras lisas, louras, castanhas, negras
...
São as nádegas, grandes umas, outras mais escorreitas,
São as ancas banboleantes nas danças das negras
ou o voltear gracioso das ancas brancas

Pátria dos meus amores, Pátria dos muitos sentidos
Pátria grande onde há de tudo
dos mares aos rios, das pequenas valas aos riachos virgens
das águas límpidas, cristalinas dos rios do leste de Angola
às águas revoltas e enlameadas das mulolas da Chela

Pátria de tantos, onde tantos se sentem com se fossem apenas um

Pátria de todos os sentidos
Pátria grande, forte.
Pátria amiga
Sempre amiga, mesmo que madrasta
Pátria da amizade, dos amigos verdadeiros
Pátria do trabalho criativo, das emoções fortes
Pátria da Paz e de tensão, de sempre haver algo a descobrir
e a redescobrir em cada rosto, em cada terra, em cada livro,
em cada história contada de muitas bocas
oriundas de muitos e variados lugares

Pátria antiga, com histórias coevas escondidas no pó das
prateleiras
das bibliotecas e dos arquivos
ou nas pedras da arqueologia
lembranças recordadas pela tradição oral ou transmitidas pela
tradição

Pátria é tudo isto,
a Pátria é tudo
Esta Pátria preenche a vida.

Pátria nossa, querida, sempre nossa, Pátria eterna
é a bandeira, é o orgulho nacional, é o exército, é a marinha,
são as fardas, os monumentos, as igrejas, os castelos, os
castro coevos,
as sanzalas remotas
São as pontes romanas e de madeira
São os comandos, os flechas,
os fuzileiros, os GE' s
São os Administradores e Governadores
os cipaios e os sobas
são a arraia miúda e os grandes
que pela Pátria se sacrificaram e se sacrificam

É também a Galiza, é o Congo, é o Shaba, é Malaca,
Cochim, Calecute, Mombaça,
é Goa, é Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné
São os fortes nas terras hoje estrangeiras,
São os crioulos de origem portuguesa,
os que ainda perduram os que se vão perdendo
São as muitas línguas outras,
o mumuíla, o calutchaze, o umbundo, o kimbundo,
o ronga, o mandinga, o tétum
Pátria de muitos lugares de muitas histórias, de muitos povos
de muitos tempos, de séculos, de muitos séculos
Pátria é vibração, e sincronia

Pátria, Pátria, a minha Pátria
é o local e o espírito
das grandes paixões
violentas, exacerbadas, arrebatadoras

Pátria é o local, a geografia, a terra,
é sempre a terra, sempre a terra
como sempre é o sangue
derramado por ela
Por ela com gosto se vive
Por ela com gosto se morre

Rui Moio, 26Out1998

5 comentários:

Kalaari disse...

...E qual é a pátria daqueles que nasceram noutras pátrias e que , não por opção, mas pela força, vivem longe da pátria que é a sua?
Uma pátria de adopção é o mesmo que uma pátria de nascimento?
Ponho-lhe a questão e espero a resposta...se a tiver.
Vera Lucia

Rui Moio disse...

O local de nascimento marca profundamente o sentimento pátrio. Há estudos realizados em emigrantes (sobretudo magrebinos a viver em França e também entre as comunidades de emigrantes na Inglaterra e na Holanda) que apontam para a importância que o local de nascimento tem no sentimento de pertença. Contudo, a cultura (modo de ser, pensar e agir) de uma comunidade pode ser cimento para a construção de uma nação e a Pátria é a terra onde vive essa Nação. Por isso todo o mundo português era uma nação e esta nação tinha uma Pátria - o espaço português. O poema pretende cantar isto - a Pátria e a Nação Portuguesa na plurietnicidade dos seus povos, dos vivos e dos mortos que construíram, ajudaram a construir, ou foram apenas habitantes contrariados de todo um espaço que era tido como português há muitas e muitas gerações.
Sendo o autor um angolano canta esta identidade pátria a partir do território que melhor conhecia – Angola.

Uma Pátria de opção pode ser uma pátria de exílio ou não. Em variadíssimos estudos sobre este tema tem-se comprovado que os emigrantes da segunda geração sentem como sua a Pátria onde nasceram e, como segunda Pátria, a Pátria dos seus pais.

Defendo que a História da Portugalidade é, essencialmente, uma história mestiça de culturas, de mistura de povos e de muitas identidades crioulas que viveram e prosperaram em diversas épocas e em espaços diferentes.
Rui Moio

Kalaari disse...

''...é a bandeira, é o orgulho nacional, é o exército, é a marinha, são as fardas...''
...E os africanos que morreram pela sua pátria? Os guerreiros que ficaram por lá? Onde cabem neste hino nacionalista? Onde caibo eu e todos os outros, nacionalistas angolanos?
Vera Lucia

Rui Moio disse...

1. - Aqui se expressa o Portugal de todas as latitudes e de todas as cores ou etnias que construiram a portugalidade ou o mundo lusófono. Aqui cabem os Gungunhanas, os Mandumes, os reis do Congo, a rainha Jinga. os Mouzinhos de Albuquerque, os João Uoma, os Bakar Djaló, os Honórios Pereira Barreto, os Domingos Sequeira...

Alguns dos grandes combatentes e heróis nacionais foram antigos combatentes (voluntários ou obrigados) dos movimentos emancipalistas que a partir de certa momento serviram com heroicidade e brilhantismo as forças armas portuguesas.


2. - Talvez... na partilha de saberes e sentimentos comuns, como por exemplo:

"são os montes agrestes e secos, os desertos, a welwichia
são as matas tropicais, as savanas do leste de Angola,"
...
"os rios grandes e pequenos, a mulola de Vila Arriaga,
o rio cubanguí, o grande zambeze,"

Rui Moio

carlosacebolo disse...

Pátria de todos os sentidos. O Título só por si já diz tudo. Aqui se expressa o grande sentido de ser português, nascido ou não em território luso.Pátria de todos os sentidos é vivida sempre com a mesma dignidade e intensidade por todos que se sentem verdadeiramente com alma lusitana. Seja natural de Portugal continental, território atual, seja natural dos territórios ultramarinos já extintos ou simplesmente nascidos em qualquer país estrangeiro por força das circunstâncias, A pátria faz sempre sentido.Pátria de todos os sentidos vem mostrar que apesar de Portugal estar hoje reduzido ao pequeno território peninsular, já foi dono de metade do Mundo. Hoje deixou de ser grande em território, mas continua a se-lo na cultura deixada e espalhada pelos quatro continentes. Pátria de todos os sentidos é isto mesmo. A Diáspora da alma lusa que regressou à forte mas deixou espalhado por onde passou todo o seu perfume.Se não se esquecer a história, qualquer povo, mesmo os dos territórios mais distantes e exóticos, saberão que foi o povo luso que deu luz ao Mundo e que deu o nome aos oceanos e mares descobertos. Se mais nada houvesse, só por isto, a Pátria de todos os sentidos nunca deixará de ter sentido. Um abraço Rui

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