sexta-feira, 12 de junho de 2009

Eis-me navegador


Eis-me navegador. um sonho abarco.
a vida é mar, a vida é toda um mar.
e quem tem alma e sabe o que é sonhar
- há-de lançar às águas o seu barco.

heróis – fernão, colombo, gama, zarco!
mistério, assombro, - a vaga, a noite, o luar,
o espaço, o vento, a chuva, a nuvem, o ar…
- adonde a calma, o rumo, o porto, o marco? –

mas uma força interna me estimula
para que eu vença a onda e o vendaval.
tanto mais quando o vento brame, ulula

e o mar ameaça abrir o hiante seio
eu tenho a fé e o sonho de Cabral
em busca do Brasil do meu anseio!


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pátria de todos os sentidos


Pátria de todos os sentidos
É a geografia, a História, a Literatura, a Língua Portuguesa, o
Sexo
são as cuanhamas, as mumuílas, as alentejanas, as
caboverdianas, as timorenses
as algarvias, as mandingas, as minhotas, as mulatas de todas as
terras ...

são os montes agrestes e secos, os desertos, a welwichia
são as matas tropicais, as savanas do leste de Angola,
as planuras do Alentejo,
os faróis da costa,
as praias, as falésias a pique, as costas agrestes,
as ilhas, os ilhéus solitários, os rochedos secos inabitáveis
os rios grandes e pequenos, a mulola de Vila Arriaga,
o rio cubanguí, o grande Zambeze,
o Tejo e a lembrança da partida e da chegada das caravelas e
naus do Império

São as danças de África, de Goa, de Timor ...
São os cantares dos povos de Angola, Moçambique, Timor, Brasil
...

Pátria de todos os sentidos

É a cultura portuguesa, do império e dos povos de todas as
cores
é a história dos feitos de portugueses e daqueles que com eles
estiveram
é a vida dos heróis que por ela se sacrificaram

Pátria de todos os sentidos
Minha Pátria

É sentir o húmido das mulheres desta terra
do Minho a Timor
É sentir os odores que a identificam e diferenciam
os encantos dos seios, negros uns, mais claros outros
É a configuração diferente das vulvas,
encarapinhadas umas, outras lisas, louras, castanhas, negras
...
São as nádegas, grandes umas, outras mais escorreitas,
São as ancas banboleantes nas danças das negras
ou o voltear gracioso das ancas brancas

Pátria dos meus amores, Pátria dos muitos sentidos
Pátria grande onde há de tudo
dos mares aos rios, das pequenas valas aos riachos virgens
das águas límpidas, cristalinas dos rios do leste de Angola
às águas revoltas e enlameadas das mulolas da Chela

Pátria de tantos, onde tantos se sentem com se fossem apenas um

Pátria de todos os sentidos
Pátria grande, forte.
Pátria amiga
Sempre amiga, mesmo que madrasta
Pátria da amizade, dos amigos verdadeiros
Pátria do trabalho criativo, das emoções fortes
Pátria da Paz e de tensão, de sempre haver algo a descobrir
e a redescobrir em cada rosto, em cada terra, em cada livro,
em cada história contada de muitas bocas
oriundas de muitos e variados lugares

Pátria antiga, com histórias coevas escondidas no pó das
prateleiras
das bibliotecas e dos arquivos
ou nas pedras da arqueologia
lembranças recordadas pela tradição oral ou transmitidas pela
tradição

Pátria é tudo isto,
a Pátria é tudo
Esta Pátria preenche a vida.

Pátria nossa, querida, sempre nossa, Pátria eterna
é a bandeira, é o orgulho nacional, é o exército, é a marinha,
são as fardas, os monumentos, as igrejas, os castelos, os
castro coevos,
as sanzalas remotas
São as pontes romanas e de madeira
São os comandos, os flechas,
os fuzileiros, os GE' s
São os Administradores e Governadores
os cipaios e os sobas
são a arraia miúda e os grandes
que pela Pátria se sacrificaram e se sacrificam

É também a Galiza, é o Congo, é o Shaba, é Malaca,
Cochim, Calecute, Mombaça,
é Goa, é Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné
São os fortes nas terras hoje estrangeiras,
São os crioulos de origem portuguesa,
os que ainda perduram os que se vão perdendo
São as muitas línguas outras,
o mumuíla, o calutchaze, o umbundo, o kimbundo,
o ronga, o mandinga, o tétum
Pátria de muitos lugares de muitas histórias, de muitos povos
de muitos tempos, de séculos, de muitos séculos
Pátria é vibração, e sincronia

Pátria, Pátria, a minha Pátria
é o local e o espírito
das grandes paixões
violentas, exacerbadas, arrebatadoras

Pátria é o local, a geografia, a terra,
é sempre a terra, sempre a terra
como sempre é o sangue
derramado por ela
Por ela com gosto se vive
Por ela com gosto se morre

Rui Moio, 26Out1998

terça-feira, 9 de junho de 2009

Ah...o Amor...


Amar é como voar!
É sentir a sensação de estar no alto,
é não ter medo de cair!
É fazer dos pesadelos sonhos, 
é sentir-se pequenino perto de quem ama!
É sentir-se grande ao se saber que é amado!


sábado, 6 de junho de 2009

Sou como você me vê


Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.


A única inocência é não pensar


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E, de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
 
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
 
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
 
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
 

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O Saco de Retalhos


Velho saco, onde estavas? No baú
das coisas mortas,
esquecidas como tu?
Guardado na gaveta
como as sedas, as cassas,
os ramos de violeta,
a poeira e as traças?

Velho saco, onde estavas? Pendurado
numa daquelas portas
que um dia se fecharam
sobre a infância, o passado,
e nunca mais se abriram?

Ou no sótão,
na trouxa dos farrapos,
misturado com os trapos?

Velho saco dos tempos esquecidos,
nos teus retalhos desbotados
reconheço os meus bibes,
as chitas e os percais dos meus vestidos.

Estes velhos riscados
foram saias, corpetes, aventais
de criadas que então eram meninas.
E estas cambraias, estas sedas finas,
usou-as minha mãe.

Ó velho saco, feito de retalhos,
rever-te fez-me bem.
Este linho desfeito, remendado,
foi lencol de noivado,
e quantas vezes te vi pôr na cama,
ó minha ama,
esta chita vermelha de ramagens.
Meu velho saco, meu livro de imagens,
rever-te fez-me bem.

Não sei, porém,
que travo amargo esta alegria tem,
que tristeza me fez, que nostalgia,
ver surgir na distância
a minha infância,
descosida, em farrapos,
e reencontrar a minha mocidade
remendada e puída
numa saca de trapos.

Ó saco, ó velho saco de farrapos,
já não sei, afinal,
se ver-te me fez bem ou me fez mal.

Fernanda de Castro In "70 Anos de Poesia", Fundação Eng. António de Almeida,
Agosto, 1989, págs. 126-127.

Até que um Dia...


Até que um Dia...
de António Quadros Ferro
"Meus versos eram rosas, lírios, heras,
borboletas, regatos, cotovias
cantando suas doces melodias,
anjos, sereias, ninfas e quimeras.

Meus versos eram pombas entre as feras
e, na festa das horas e dos dias,
ia dançando penas e alegrias
e o ano tinha quatro primaveras.

E a festa continua... é também festa
o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,
a chuva no beiral, o vento Norte,

o gosto a mar, a lágrimas, a sal,
até que um dia a vida, a bem ou mal,
exausta de cantar me empreste à morte."

Fernanda de Castro, in «E Eu, Saudosa, Saudosa»

Quero


Quero 
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo

Fonte: Blogue AMORE - post de 04Jun2009

Dia da Criança


É um dia em que cabem
todos os dias do ano
e as coisas mais bonitas
que não podem causar dano:
os sonhos e os brinquedos,
as festas, as guloseimas,
a sombra de alguns medos,
a casmurrice das teimas
e também, com fartura,
o afecto e o carinho
com que se faz a ternura,
para mostrar ao mundo
que a guerra é uma loucura
e que o gosto de ser menino
é o nosso eterno destino.
 

quarta-feira, 3 de junho de 2009

PARA UMA PINTORA - Homenagem a Maluda


Na geometria dos teus telhados
Na simetria da tua paisagem
Na luminosidade dos teus quiosques
Na serenidade das tuas janelas
Encontraste a força intelectual
A sabedoria exponencial
A beleza espiritual
De pintar Lisboa
De pintar Portugal.


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