segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Eu queria tanto


Eu queria tanto
Que o sonho que me atormenta
Fosse real, fosse verdadeiro

Eu queria voltar
A encontrar a paz que havia
A Pátria pluriracial
Honrar os heróis verdadeiros
Que lutaram e ganharam
A guerra que nos fizeram

Eu queria tanto
Voltar e encontrar
As picadas sem morte
As sanzalas escondidas
As jangadas e pontes de madeira
Os rios pacíficos e despoluídos
As igrejas com gente a cantar

Eu queria tanto
Voltar ás baías de Moçâmedes e de Benguela
Cheirar o mar de Luanda
E as flores das chanas das Terras do Fim do Mundo

Eu queria tanto
Voltar a ser um povo unido
Sem memória
Nem desonra do abandono e da derrota
Sem lembrança
Da cobarde descolonização

Eu queria tanto
Que o meu sonho de criança
Voltasse a ser tão forte e presente

Eu queria tanto
Voltar a ser a Pátria grande
Que não se interrompesse aquele sonho de criança
A Pátria de Moçamedes e de Benguela
Do Rovuma e do Maputo
De Bonomaro, das bolanhas da Guiné
Da cidade de Pemba
Da ilha de Moçambique

Eu queria tanto
Sentir orgulho nas caravelas
E nos cantos que nos embalaram
Em séculos de encontros

Eu queria tanto
Voltar a sentir a Pátria e o Império
Como coisa nossa
Como sentia em criança

Rui Moio. 11Abr2008. 

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