via Angola: os poetas by kinaxixi on 8/6/10
Era no tempo dos tamarindos
meu pai sempre acordava p'la manhã
e ia cantando pró quintal
enquanto fazia a barba
debaixo do caramanchão
da buganvília cor-de-violeta.
era no tempo dos tamarindos.
zenza niala vinha entrando na cancela
à cabeça a quinda carregadinha de fruta
sempre cumprimentava minha mãe:
- "sápere, dona!"
minha mãe respondia:
- "olá"
ela aganchava no chão
destapava a quinda
e por sob as folhas frescas de mamoeiro
mostrava papaias e pitangas saborosas.
às vezes trazia fruta-pinha e sápe-sápe.
era sempre o mesmo dialogo.
minha mãe. "chingamin?"
zenga niala do chão sorria
mostrava os dentes de marfim
e respondia:
- "meia-cinco, sinhóra!"
era no tempo dos tamarindos.
e havia "bigodes" e " bicos de lacre"
cantando nas acácias do quintal.
depois zenza niala ia embora,
as ancas baloiçando
a quinda na cabeça.
era no tempo dos tamarindos em flor.
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